segunda-feira, 9 de abril de 2012

A DEFINIÇÃO DE JUNG- SINCRONICIDADE

Sincronicidade (do grego syn, junto, e chronos, tempo) é a designação de Jung para um princípio que deveria explicar a relação significativa mais acausal de acontecimentos, a “coincidência significativa” de dois ou mais fatos. Se aceita a hipótese, a adoção de uma função psi - que tornaria possível uma explicação causal torna-se supérflua. A hipótese foi desenvolvida por Jung num trabalho conjunto com o físico Woltgang Pauli (1900-1958).
Jung distingue três categorias de sincronicidade:
1 ) coincidência de um estado psíquico do observador com um acontecimento objetivo simultâneo, que corresponde ao estado psíquico, sem que se possa pensar em uma relação causal;
2) coincidência de um estado psíquico com um acontecimento exterior correspondente, de que o sujeito não tenha conhecimento;
3) coincidência de um estado psíquico com um acontecimento futuro.
Essas coincidências se compõem de dois aspectos:
1 ) uma imagem inconsciente torna-se consciente; essas imagens são diretas, quer dizer, reproduzem diretamente o acontecimento exterior, ou são indiretas, simbolizam o acontecimento. Segundo Jung, a maior parte das imagens são de natureza arquetípica. A esse tornar-se consciente corresponde;
2) o acontecimento exterior.
Com a hipótese da sincronicidade, Jung tenta compreender não apenas manifestações paranormais em sentido estrito, mas também a astrologia e a clarividência. Nas reflexões de Jung a respeito da sincronicidade, conceitos como o “pleroma gnóstico” desempenham também um papel: pleroma significa no gnosticismo o lugar de Deus e de todas as revelações; se se concebe um espaço intermediário, nem psíquico, nem físico, pode-se entender os fenômenos de sincronicidade como uma participação do espiritual e da realidade exterior nos acontecimentos desse mundo intermediário...

A SINCRONICIDADE E O SIMBOLO

Lúcia Cristina Batalha


A Sincronicidade, termo criado por C.G. Jung em sua vida dedicada às pesquisas sobre o gênero humano e seu mundo subjetivo, será agora abordada nesta discussão. Trataremos dos chamados "fenômenos casuais" e suas implicações simbólicas. "Uma sincronicidade existe sempre que dois acontecimentos ocorrem simultaneamente possuindo significado comum. E usualmente quando um conteúdo psíquico, vindo de um sonho, de premonição ou aspiração se expressa objetivamente num fato, visível e palpável, ou num acontecimento social qualquer. As chamadas "coincidências" e "casualidades" com as quais nos deparamos no dia-a-dia, podem ser comentadas, estudadas e explicadas dentro do prisma da sincronicidade. "Quem não se recorda de ter passado por vários instantes em que tenha exclamado: "mas que coincidência...".

Há várias passagens na vida de Jung, em que ele comenta este fato, em particular nas terapias com seus pacientes. Era enfático, ao afirmar que normalmente uma ocorrência sincronística de conteúdo simbólico, expressando algo próximo das dificuldades do paciente, sempre propiciava uma mudança e transformações notáveis no mesmo. Cita o caso de uma mulher, bastante cartesiana e pragmática de difícil tratamento, raciocínio lógico, pouco sensível, assistida por ele há longo tempo. Um dia, consideravelmente alterada, falou-lhe de um sonho, acerca de um maravilhoso escaravelho dourado que lhe trazia imagens e informações especiais para seus problemas não resolvidos. Nesse instante, um inseto se choca contra a janela de vidro do escritório e penetra na sala, apesar de ir contra o seu hábito, pois era de tarde e no escritório estava mais escuro do que fora. Jung pega-o com as mãos e mostra-lhe. Era um escarabeídeo róseo, cujos élitros (asas) eram dourados. Ele lhe diz — Aqui está o seu escaravelho dourado. Acompanhado de comentários após este evento, a terapia incrementou significativamente.

Ele próprio vivenciou umas experiências com o peixe durante alguns dias. Certa vez acordou e viu uma carta com um desenho, metade homem, metade peixe; aquele dia era primeiro de abril, na Alemanha, considerado dia do peixe; no almoço aquele foi o alimento. Uma paciente lhe mostrou algumas pinturas de monstros marinhos; outra havia sonhado com este animal. Alguns dias mais tarde, quando passava em revista seus escritos relativos a este, uma paciente lhe mostrara uns bordados com desenho de peixes, e ao sair do consultório, próximo ao lado avistara um, nunca dantes ali encontrado, morto sobre um muro. Tais acontecimentos eram paralelos aos estudos de Jung sobre o simbolismo do peixe — mitológico, astrológico e alquímico. Estes resultariam em significativas relações com as teorias do inconsciente, que vinha desenvol vendo.

Alguns meses atrás, fomos informados de um dos muitos casos de coincidência significativa com um recente herói brasileiro da navegação — Amyr-Klynk. Ele nos conta em seu livro: "100 dias entre céu e mar", que dias antes de embarcar de Lüdertz, na África, via Atlântico Sul, a remo, para aportar no Brasil, no meio de várias dificuldades, soube que por lá morava uma brasileira de Parati, sua cidade natal. Ao visitá-la, ele avistou uma foto antiga, que mostrava sua moradia com uma canoa em frente. Esta foi a que usara em sua primeira travessia a remo, realizada de Santos a Parati. Teve a certeza de que mesmo com tantos empecilhos políticos para sua partida estava, então, no caminho. Precisava também de um mapa das correntes marítimas do Atlântico, porém não encontrava. De repente um amigo enviou-lhe um abajur comprado num antiquário, que possuía na aba um desenho antiquíssimo das linhas das correntes. Este, além de iluminar o barco, auxiliou-o na navegação.

As ocorrências sincronísticas são de diversas espécies e sempre estarão correlacionando fatos subjetivos com objetivos; projeções do mundo inconsciente ou subconsciente do indivíduo, em acontecimentos sociais, no meio físico. Há um fator transpessoal entre essas duas realidades, que Jung em particular não confirmava. Para ele não havia uma causa. Eram eventos, os quais apenas constatava, não explicando sua procedência.

Ao buscarmos pensadores de várias épocas, veremos que muitos nos falam desses fenômenos e procuraram uma explicação. Alguns atribuíram a uma causa primordial, imanente e transcendental, presente na natureza de todo o mundo manifesto, ordenando, providenciando para que todos os seres e objetos estejam ligados intimamente de alguma forma. Atados a uma grande teia cósmica, onde qualquer movimento interferiria nos demais, geraria acontecimentos e suas conseqüências. Estes poderiam ser temporalmente longínquos ou imediatos.
Shopenhauer aludia a uma Vontade criadora, que Tudo determina, através da sua Providência. Nela há uma causa primária que produz a simultaneidade e inter-relação dos acontecimentos, gerando um paralelismo psicofísico.

Cornélio Agripa, contemporâneo de Paracelso, dizia que a alma do mundo penetra todas as coisas, ligando-as, mantendo-as unidas, fazendo com que a máquina do mundo seja uma só, produzindo correspondências e coincidências significativas. Já Alberto Magno nos fala de VIRTUS, "o poder na alma capaz de mudar a natureza das coisas e de subordinar a elas outras tantas, particularmente quando esta se acha arrebatada num grande excesso. Pois se liga magicamente às coisas e as modifica no sentido em que quiser".

Verificamos que nos eventos coincidentes há um mecanismo ordenado e coerente regido por uma lei, mesmo que nossos sentidos não a percebam e interpretem-nos como isolados e desconexos.

A manifestação destas ocorrências se dá geralmente dentro de uma linguagem. Esta, quase sempre simbólica, sugere uma resposta que deve ser decifrada num nível mais profundo do que a mera ocorrência sincronística. A coerência para ela, deve ser buscada através de uma análise minuciosa, não-emocional, mas intuitiva. Portanto o estudo dos símbolos é o primeiro passo, ao qual faremos referência, para ilustrar estas questões.

Os símbolos podem situar-se em três tipos:

1º — O da comunicação oral, escrita, visual, da cultura e civilização de um grupo social.
2º— Os particulares da experiência psicológica, estrutura emotivo-psíquica, da formação educacional e do temperamento de cada indivíduo.

3º — Os símbolos verdadeiros: — tradicionais, das religiões, mitologias e filosofia.
Estes guarnecem os significados primordiais, cosmogênicos e antropogênicos universais. São dados à humanidade por cada Manu de raça; de Mestre a discípulo, e velam verdades que só de grau em grau é possível desvelar. Dependerá da capacidade, estrutura mental e dos atributos morais e éticos do decodificador.

Cada símbolo tradicional tem vários significados. De acordo com o grau em que se penetra, se alcança parte da verdade que ele guarnece. Quão mais receptivo e intuitivo for um indivíduo, mais profundamente ele penetra na realidade de um símbolo místico, seja em contemplação, concentração ou meditação.

Alguns acontecimentos sincronísticos, advindos de um sonho ou premonição, podem ser interpretados simbolicamente através do conhecimento das verdades deste terceiro tipo de símbolo. Deve-se não desperdiçar estas oportunidades que o mundo oculto de nossa consciência quer revelar. Pois somos como um iceberg, onde visivelmente há apenas uma pequena ponta. E quando algo mais se manifesta, devemos atentar.

H.P.Blavatsky em A Doutrina Secreta nos fala de sete chaves sagradas dos símbolos. A astronômica-astrológica; cosmogônica; numerológica-geométrica; psíquica; criativa; espiritual e antropológica. Pois bem, cada um destes segredos do conhecimento sagrado pode, através do seu entendimento, nos falar mais integralmente do mundo fenomênico e da Realidade a que estamos inseridos: o papel das magnânimas hierarquias criadoras e construtoras; os planetas sagrados, as hostes de forças mudando e conduzindo a nós e ao Cosmos através de suas influências ativas; os números correspondentes às letras de nossos nomes, e as proporções harmônicas em todo ser vivo: princípios e centros de nossa constituição física e hiperfísica; os seres que representam as raças e humanidades de todos os tempos nas mitologias e alegorias de diversos povos etc.

Compreender esse segredos é aplicá-los diretamente no nosso viver diário. Há eventos que possibilitam interpretação profunda, e não se trata apenas de rotulá-los como algo "casual". Embora muitas vezes "aquela sincronicidade" não pareça relevante, ela pode ser o estopim de várias mudanças que, se bem aproveitadas e entendidas no seio de uma vida, nos permitirão um despertar da ignorância, da morte em que nos encontramos.

Os tesouros da sabedoria que Madame Blavatsky trouxe ao mundo, através de sua obra, não estão tão distantes de nossa realidade cotidiana. Numa investigação séria, com mente aberta, o homem sensível, atento aos fenômenos coincidentes, pode perceber o seu Dharma e portanto atuar na direção da corrente do rio. Detecta a lei do Karma, esta teia de que nos falava os antigos, e passa a agir sabiamente, evitando o mal, discernindo entre o útil, o não útil e o mais útil, como nos fala Aos pés do Mestre. Afinal, podemos concluir que a sincronicidade é uma exteriorização de uma das veias de ação da lei do Karma. Compreendendo-a na nossa vida, em qualquer circunstância, a natureza da mente poderá ser perscrutada com mais subsídios; o mistério da vida e da existência, guarnecido nos símbolos, se revelará pouco a pouco.

Os hindus consideraram o universo de Deus como Lila — a brincadeira cósmica. Para nós os acontecimentos coincidentes, sua interpretação e entendimento, assim também nos parecerá.

Fonte: Revista Logos, Nº15, Revista do Centro Teosófico de Pesquisas

AS COINCIDÊNCIAS QUE DESAFIAM O ACASO



por: Hans Manfred Heuer


O psicólogo suíço Carl Gustav Jung (1875-1961) e o físico laureado com o prêmio Nobel Wolfgang Pauli (1900-1958) introduziram na psicologia o conceito de “sincronicidade” para ocorrências de acontecimentos acausais simultâneos, ligados por um sentido comum, tanto na natureza como na psique (acasos inevitáveis, fenômenos psi, etc.).
Quem nunca ouviu falar do acúmulo casual de acontecimentos importantes, muitas vezes dramáticos em certas datas, ou em determinado ano para muitas famílias ? Não é como se o destino às vezes “insistisse em escolher” determinados lugares e datas para acontecimentos semelhantes? É o caso dos exemplos que se seguem:
“Na semana passada, nas proximidades de Fürstenwalde, um motociclista foi apanhado pela locomotiva de um trem e arrastado para a morte. Há seis anos, a mãe da vítima perdeu a vida da mesma forma e quase no mesmo local. Como revelou a pesquisa, tratava-se da mesma locomotiva e do mesmo condutor, sem que este tivesse a menor culpa disso.” -
Trata-se de uma antiga notícia de jornal, cuja data não pode mais ser precisada - basta ler o jornal com atenção para encontrar, quase que diariamente, notícias semelhantes.
Seguem alguns casos especialmente marcantes:
“O destino, muitas vezes, segue caminhos estranhos. Assim ele determinou que dois moradores de Fautenbach em Achern-in-Baden (seus pais eram irmãos e eles também eram vizinhos) não só fossem internados no hospital no mesmo dia, como também que ambos morressem no mesmo dia e fossem levados para sua última morada sexta-feira passada.” (Do Badische Neueste Nachrichten de 10/4/1972. )
“Estranhos casos de morte assolaram na semana passada uma família de Ichenheim, distrito de Lahr. Com 61 anos de idade, Emma Nautascher faleceu depois de breve enfermidade. Sua irmã Maria, com quem viveu por muitos anos, seguiu-a, três dias depois, com 77 anos. E quase na mesma hora morria a terceira irmã Anna Blasi, nascida Nautascher, com 64 anos, no hospital, vítima de derrame cerebral.” (Do Acher-und Büh- ler Bote de 11/7/1972.)
Tragicamente interessante em todos esses casos é a relação familiar, que muitas vezes desempenha um papel, como mostra o caso seguinte:
“Na mesma semana os irmãos da rainha Sílvia da Suécia foram seriamente acidentados. Ambos, Jorg Sommerlath, de 36 anos, e Ralf Sommerlath, de 48, tiveram um acidente automobilístico em lugares distintos...” (Bild, l/12/1977.)
O médico dr. Wilhelm Fliess (1858-1928) - que defende em sua (amplamente discutível) “teoria dos períodos” a opinião de que “as ondas periódicas, que atravessam nosso corpo, determinando sua vida e bem-estar, doença e morte, não dizem respeito apenas ao indivíduo isolado, mas atravessam ao mesmo tempo toda a geração que tem o mesmo sangue . . .” - esclarece com suas descobertas, entretanto, apenas uma parte das estranhas “duplicidades” determinadas pela consangüinidade, como as que se ma-nifestam nos exemplos citados, justamente as coincidências de casos de doença e morte na mesma família. Esses exemplos, no entanto, também estão submetidos àquela força de atração misteriosa, quase mágica, que se encontra nos casos de “duplicidade” ou sincronicidade, cuja atuação é muito mais ampla, já que não se limita à consangüinidade.
Mesmo assim, queremos acrescentar aqui mais um exemplo, que se encaixa na “teoria dos períodos”, por se tratar de algo bastante raro. Na primavera de 1960, a revista Schweizer Illustrierte publicou a foto de uma “família bissexto”, acompanhada do seguinte texto:
“A cegonha da família sueca Berggren, de Charlottenberg, tem tido o capricho de por três gerações aparecer pontualmente no dia 29 de fevereiro. O avô Goran Berggren, seu filho Gosta e a esposa deste, Britta, nasceram todos num dia bissexto, e agora sua filhinha também nasceu no dia 29 de fevereiro deste ano. Os Berggren desafiam qualquer família da Europa a bater seu recorde - o que, sem dúvida, é bastante difícil.”
Wilhem von Scholz descreve um exemplo oposto: “O médico L. Th. (de Württemberg) atendeu em 1924 dois casos de extraordinária coincidência. Casos duplos de doença ou morte já eram há muito conhecidos na clínica, mas dessa vez o jogo do destino foi mais longe. Duas crianças foram a seu consultório. Ambas chamadas Helmut Haller, os dois pais chamados Wilhelm Haller, ambas nascidas em junho de 1921, ambas com a mesma moléstia (bronquite), ambas internadas ao mesmo tempo, os dois pais trabalhando no mesmo setor. As duas crianças eram loiras, de olhos azuis e de temperamento bem incomum.
“As famílias eram provenientes de regiões distintas, não tinham nenhum parentesco e não se conheciam até o momento (pelo menos as mães). Os pais só ouviram falar um do outro no local de trabalho.
“Um funcionário de confiança visitou as duas famílias, residentes em Z., em lugares opostos. Seu relatório:
“Helmut Haller, rua B número 72, em Z., nascido a 8 de junho de 1921. Não há ninguém mais na família com o nome de Helmut.
“Helmut Haller, rua A número 115, em Z., nascido a 27 de Junho de 1921. Não há mais ninguém na família com o nome de Helmut.
“Em Z. existem sete médicos. Os meninos Helmut Haller devem ser as únicas pessoas da Terra que nasceram no mesmo mês do mesmo ano e cujos pais se chamam Wilhelm Haller. E exatamente esse ‘par’ veio parar em Z., proveniente de lugares distintos, sem que as duas famílias jamais se tivessem conhecido, vindo a ser tratado no mesmo mês pelo mesmo médico, da mesma doença, enquanto os pais se empregavam na mesma oficina.
“A semelhança no preenchimento das fichas dos doentes onde são anotados nome e sobrenome, ano e mês de nascimento das crianças, nome e sobrenome do pai, doença e seguro de doença (também o mesmo) e data de tratamento - levou o médico a acreditar que preenchera duas vezes a mesma ficha. Da mesma forma, o caixa desculpava-se por um suposto erro cometido.”
Embora esses casos devam ser vistos como raridades, estou convencido de que uma pesquisa sistemática e intensiva nesse domínio traria à luz outras raridades, pois a natureza se compraz com tais “extravagâncias’, como se quisesse nos mostrar do que é capaz, deixando-nos às voltas com enigmas.
Mesmo que alguns casos de “duplicidade” se encontrem separados no tempo, devem ser vistos nesse contexto, como o demonstram os exemplos seguintes, que têm apenas uma coisa em comum: a “predileção” do destino por um nome especial . . .
No dia 5 de dezembro de 1664, o navio inglês “Menay” naufragou em Pas de Calais em meio a uma tempestade. Dos 81 passageiros salvou-se apenas um, um certo Hug Williams.
No dia 5 de dezembro de 1785, uma escuna foi atirada por um temporal às costas da ilha Man. Sessenta pessoas estavam a bordo e todas se afogaram, com exceção de uma. O sobrevivente se chamava Hug Williams.
A 5 de agosto de 1820 um vapor de passageiro chocou-se com um rebocador no rio Tamisa. Vinte e cinco passageiros, em sua maioria crianças por volta de 12 anos, perderam a vida nesse acidente. Apenas o pequeno Hug Williams, que embarcara em Londres para visitar Liverpool, foi levado para terra com vida.
A 19 de agosto de 1889, um cargueiro de carvão sofreu um naufrágio. Sua triputação de nove homens encontrou a morte. Apenas dois, tio e sobrinho, ambos de nome Hug Williams, sobreviveram, sendo salvos por pescadores.
Casos de duplicidade, sincronicidade - simultaneidade de acontecimentos com pessoas e lugares e em relação com nomes, números e datas -, podem ser acrescentados aqui à vontade. Cada um de nós já se defrontou alguma vez com experiências desse tipo, seja pessoalmente ou por intermédio de pessoas da família, amigos ou vizinhos. Como sobre todos os fenômenos ainda não bem esclarecidos, são muitas as opiniões a respeito da “duplicidade de acontecimentos” da simultaneidade de fatos semelhantes.
O materialista dirá que não passam de disposições fortuitas de acontecimentos, de “caprichos do destino”. O crente irá aceitá-las como vontade de Deus, o cientista irá vê-las no contexto das leis de causa e efeito, o filósofo, de acordo com sua visão de mundo.
Uma coisa parece certa: em fatos humanos atua um certo magnetismo. Existe uma força de atração que produz tudo aquilo que chamamos “acaso” (inclusive sob forma de duplicidade de acontecimentos). Entretanto, essa força de atração, como podemos observar em casos raros, não é naturalmente a única força motora de nossa existência humana, embora atue misteriosamente em toda parte. Ela é algo “acrescentado “ .
Vamos partir do princípio de que existem forcas que se delineiam claramente diante da razão, que atuam de forma conseqüente e que não têm nada de misterioso em si. Essa chamada força de atração, contudo, se esquiva a qualquer cálculo e controle da vontade; pelo contrário, é prejudicada pela consciência, pois se oculta da razão, não parece atuar de forma, conseqüente, mas surge de forma repentina e imprevista de uma relação de início invisível. Ela aparece como algo estranho, que vem de fora. Nisso se encontra sua relação com o destino. Também o destino, na acepção lata do termo, é algo estranho e que vem de fora. É aquilo que , independente da marcha desejada e prevista das coisas, irrompe do exterior, exigindo, ou muitas vezes impedindo, de forma decisiva.
Em seu texto sobre “A Aparente Intencionalidade no Destino do Indivíduo”, o filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860) afirma que tudo é duvidoso, não só a solução como até mesmo o problema. Segundo ele, trata-se de andar tateando no escuro, onde se percebe que há alguma coisa, sem que se possa saber bem o que nem onde. Mas em seguida ele postula, em uma observação filosófico-metafisica, uma necessidade rígida, pela qual tudo que acontece é produto de uma cadeia causal coesa, e menciona os videntes e profetas como “prova empírica” de que em cada momento existente estão contidos em germe todos os momentos futuros do mundo com todos os seus milhões de particularidades.
Se se quer denominar o destino de unidade última de acaso e necessidade íntima, é preciso supor que as vítimas da “duplicidade de acontecimentos” - para o bem ou para o mal - conjuraram elas mesmas os incidentes, justamente pela “necessidade íntima”.
Segundo Schopenhauer, “casual” significa o encontro no tempo do que não se liga por causalidade. A essa tese Wilhelm vou Scholz opõe o seguinte: “Nada é absolutamente casual; o mais fortuito é apenas algo necessário que percorreu um caminho mais distante, pois uma causa decisiva situada num ponto remoto da cadeia causal há muito já determinou que ocorresse exatamente agora e com isso ao mesmo tempo que aquilo outro. Cada acontecimento é um elo isolado da corrente de causa e efeito que progride na direção do tempo. Mas existem infinitas correntes dessas paralelas no espaço. Entretanto, elas não são totalmente estranhas e sem vínculos entre si; ao contrário, se entrelaçam de muitas maneiras: por exemplo, muitas causas que atuam nesse momento, produzindo cada uma efeitos diferentes, surgiram de uma mesma causa remota, e por isso são aparentadas como os bisnetos de um bisavô; por outro lado, um único efeito que surge agora exige muitas vezes o concurso de muitas causas distintas, que vêm do passado como elos de suas próprias correntes.
“Por conseguinte”, segue Scholz, “todas as correntes causais que progridem na direção do tempo formam uma grande rede comum entrelaçada, que em toda sua extensão avança no sentido do tempo, constituindo o andar do mundo. Imaginemos agora essas cadeias causais isoladas como meridianos situados no sentido do tempo: a simultaneidade não pode ser indicada na mesma linha causal, e sim por círculos paralelos. Embora fatos situados sob o mesmo círculo não dependam imediatamente um do outro, o entrelaçamento de toda a rede, ou o conjunto de causas e efeitos que avança no sentido do tempo, faz com que tais fatos tenham algum tipo de ligação, ainda que longínqua, e portanto sua simultaneidade é necessária. Aqui, o encontro casual de todas as condições se aproxima de um acontecimento necessário no mais alto sentido: o acontecer daquilo que o destino quis.
Assim, em última conseqüência todos os casos de “duplicidade” ou “sincronicidade” não são de modo algum simples acasos ou brincadeiras da natureza, como muitas vezes somos levados a acreditar, e sim acontecimentos que desde o princípio aguardam seu desempenho, o qual só ocorre quando é dada esta ou aquela condição.
Sem dúvida, resta saber se algum dia conseguiremos captar as relações profundas desses fenômenos, de forma que seja possível, partindo de “hipóteses de trabalho” ou “modelos de pensamento”, chegar a um conhecimento Claro da regularidade e da previsibilidade dos acontecimentos do destino.

JUNG E SINCRONICIDADE: O CONCEITO E SUAS ARMADILHAS




Ø Sincronicidade - É o conceito usado por Jung para designar dois ou mais
eventos que parecem ter uma correlação, sem que se encontre um nexo causal
entre eles. É um princípio de conexões acausais. Na ocorrência de fenômenos
sincronísticos, o tempo e o espaço são reduzidos a vetores secundários, não
quantificáveis. Tais eventos são chamados de fenômenos da coincidência
significativa. Jung dizia que os fenômenos da sincronicidade “mostram que o
não-psíquico pode se comportar como o psíquico, e vice-versa, sem a
presença de um nexo causal entre eles”. Os eventos ligados aos fenômenos
da percepção extra-sensorial são considerados por Jung como sendo da
sincronicidade.
Eventos em sincronicidade são aqueles que ocorrem, simultaneamente ou
não, sem um nexo causal entre eles, sendo um interno e outro externo ao indivíduo
que os percebe. Quando alguém tem consciência de que algo, em que tinha pensado
ou percebido em si mesmo, sendo de seu exclusivo e íntimo conhecimento,
assemelha-se a um acontecimento externo ou com ele encontre uma correlação, sem
que tenha havido para este último sua participação, estará diante de dois eventos em
sincronicidade. A sincronicidade não nos leva à compreensão do que ocorre, pois é
apenas uma palavra utilizada para identificar um fenômeno sem explicação plausível
ou que não obedeça a uma causalidade conhecida. Um exemplo pode ilustrar
melhor: alguém está assistindo a um filme qualquer num cinema e uma cena o faz
lembrar de um episódio de sua infância, ocorrido há muitos anos, no qual brincava
com um amiguinho que não vê desde aquela época, e, ao sair do cinema, encontra
este mesmo amigo. Ocorrências como essas podem trazer pistas sobre o significado
da vida e de como cond uzi-la adequadamente.
Os fenômenos da sincronicidade são muito comuns em todas as culturas e
épocas da história humana. Ocorrem desde que o ser humano assumiu a consciência
de sua existência como indivíduo. Vez por outra nos deparamos com tais eventos,
sem que os provoquemos ou possamos estabelecer a freqüência com que ocorrem.
Parece que a necessidade lógica de associar os fenômenos da natureza, de acordo
com uma causalidade imediata, realizada pela consciência, obscureceu a percepção
da sincronicidade como um evento natural.
Mesmo sendo um evento natural, a sincronicidade pertence a uma dimensão
supra-arquetípica, pois não se percebe qualquer possibilidade de intervenção causal
da psiquê humana em sua produção. Pode-se até afirmar que para sua ocorrência
houve a participação do arquétipo do Si-Mesmo, porém será sempre uma inferência
improvável. Mesmo assim, permanece a suspeita da participação direta do(s)
inconsciente(s) envolvido(s).
Há pessoas que parecem atrair com maior freqüência os fenômenos em
sincronicidade. São como imãs psíquicos para que eventos externos coincidam com
aspectos psíquicos internos. Essas pessoas recebem constantemente sinais de que a
vida contém muito mais do que eventos causais; aspectos que são representações de
processos psíquicos ainda não compreendidos. Isso é observado na maioria dos
médiuns ostensivos. Os fenômenos da sincronicidade parecem ocorrer em maior
quantidade e intensidade com eles. Suspeito que eles tenham o inconsciente mais
“aberto”, isto é, suscetíveis com maior freqüência a exprimir-se.
Quando um evento em sincronicidade é percebido por uma pessoa, esta deve,
depois de tentar entender o que aconteceu, relevar a ocorrência do fato em si e ir em
busca da compreensão do Universo sob outro paradigma além do material. Deve
começar a compreender que a vida contempla aspectos espirituais importantes, nos
quais deve investir. A freqüência de eventos em sincronicidade na vida de uma
pessoa representa um chamado de Deus para que sua existência encontre um novo
significado e aconteça a necessária transformação nos valores e percepções
adotados.
Um dos eventos mais comuns, cuja explicação pode ser levada à conta da
sincronicidade é quando pensamos em alguém e em seguida temos um contato real,
não planejado, com aquela pessoa, seja por telefone, por computador ou
pessoalmente. Essa ocorrência pode ser explicada pela telepatia, cujo funcionamento
não é profundamente conhecido, bem como ter causas espirituais, devido à
influência de algum espírito sobre a lembrança de alguém para favorecer o seu
encontro com outrem. Telepatia ou encontros provocados por espíritos, são
sincronicidade por causa da coincidência significativa entre um evento interno
(pensar em alguém) e o evento externo (encontrar ou comunicar-se com a pessoa).
De qualquer forma, quando este tipo de evento ocorre, não deixa de ser um sinal
para que a pessoa passe a se ocupar das coisas do espírito. A sincronicidade
percebida é sempre um convite à subjetividade da vida e à compreensão de algo
maior do que a razão possa alcançar.
Há fenômenos em sincronicidade cuja compreensão extrapola a inteligência
comum, pela complexidade de sua ocorrência. Considero que a explicação se
encontra a partir de outro sistema de formulação da realidade, ainda não alcançável
pela mente humana. São fenômenos que envolvem a morte, a mediunidade, o
transporte e materialização de objetos em ambientes fechados, dentre outros. Da
mesma forma, os eventos em sincronicidade no qual animais participam. Mesmo
considerando que a mente humana tem suas raízes na estrutura cerebral, portanto
animal, e que pode haver semelhanças nas freqüências, torna-se difícil aceitar uma
possível intencionalidade.
Quando os eventos em sincronicidade se referem a constantes encontros com
pessoas nas quais se pensou ou cujos nomes foram pronunciados momentos antes,
isto está relacionado com uma necessidade interior de modificação do padrão
psíquico de conexão com o outro, quem quer que seja. Tal modificação não se deve
a algo negativo, mas à intensidade e qualidade da relação entre aquelas pessoas. A
sincronicidade ocorre para uma nova aproximação com aquela pessoa ou com
alguém que guarde semelhança com a personalidade daquela pessoa.
O mito pessoal também pode ser identificado através das relações com os
eventos da sincronicidade, cuja leitura deve ser feita quanto à qualidade, isto é,
conteúdo e freqüência com que ocorrem. Tais eventos representam aspectos
psíquicos internos, cujo controle foge ao alcance do indivíduo.
Alguns tipos de eventos em sincronicidade:
1. Pensar ou falar num animal e ele aparecer no ambiente. Tal evento, dentre
outras possibilidades, pode estar associado a características daquele animal, que
merecem atenção e reflexão na personalidade da pessoa. A vitalidade instintiva
característica do animal participante do evento denota a existência de um campo de
força ctônica presente.
2. Pensar em alguém e se encontrar em seguida com aquela pessoa. Esse
evento pode estar simbolizando uma necessidade da ampliação de contatos sociais
na vida da pessoa. Pode também representar a conectividade existente, e nunca
rompida, entre aqueles que um dia já estiveram juntos.
3. Lembrar de uma pessoa e receber uma carta ou e-mail dela, depois de muito
tempo que não a vê. Em acréscimo ao item anterior, denota a necessidade da pessoa
ampliar suas conexões afetivas. O contato via computador, denominado de virtual,
não alcança a complexidade afetiva daquele ocorrido pessoa a pessoa.
4. Alguém morrer no mesmo dia e mês em que a pessoa nasceu ou que algum
parente muito próximo tenha morrido ou nascido. A sincronicidade de datas diz
respeito, além de algum tipo de relação com aquela outra pessoa, aos ciclos da vida
e ao uso do tempo. A pessoa deve estar necessitando avaliar melhor as fases de sua
vida e se viveu as experiências pertinentes.
5. Alguém morrer e no mês, dia ou hora seu relógio deixa de funcionar. Tal
evento, para quem o percebe, pode denotar a consciência do aproveitar as energias
disponíveis no momento presente. O tempo e sua marcação, como componente da
sincronicidade, podem estar revelando a uma necessidade maior de considerá-lo e
de valorizá-lo.
6. Alguém sofrer um acidente e algum de seus objetos, a quilômetros de
distância, desaparece ou se quebra. Isso pode simbolizar a conectividade de tudo no
universo, bem como a necessidade do desapego. A relação entre a pessoa e um
objeto à distância pode simbolizar vínculo com o local onde ele se encontra e o
significado a ele atribuído.
7. Pensar num número e se deparar seguidas vezes com o mesmo durante o dia,
em placas de carro, telefones, documentos, etc. A soma dos números vistos pode ter
um significado particular para a vida da pessoa. O número é uma abstração que
aponta para a subjetividade da mente humana.
8. Ocorrência de eventos que se assemelham, vividos por pessoas que não se
conhecem e que culminam com imprevisível convergência, percebidos por alguém
que os associa mentalmente. Quem associou aqueles eventos síncronos pode estar
sendo chamado a uma busca espiritual.
A sincronicidade é uma dimensão que extrapola os níveis causais conhecidos.
Traz ao ego a necessidade de transcendência dos conteúdos da consciência, visando
a compreensão de outra ordem de valores e possibilidades na vida. O mito pessoal
poderá ser visto também pelos eventos em sincronicidade na vida de uma pessoa,
principalmente pelo natural convite à transcendência.

JUNG O NÚMERO COMO ARQUÉTIPO



Jung: o número como um arquétipo
Excertos do livro "Sincronicidade" de Carl Gustav Jung (pag. 32-33)

Desde épocas mais remotas, o homem serviu-se de números para determinar as coincidências significativas, isto é, as coincidências que podem ser interpretadas. O número é algo de especial - poderíamos mesmo dizer misterioso. Ele nunca foi inteiramente despojado de sua aura numinosa.
 Se, como diz qualquer manual de matemática, um grupo de objetos for privado de todas as suas características, no final ainda restará o seu número, o que parece indicar que o número possui um caráter irredutível. (Não me ocupo aqui com a lógica dos argumentos matemáticos, mas com sua psicologia!). A série dos números inteiros é inesperadamente mais do que uma mera justaposição de unidades idênticas: ela contém toda a matemática e o mais que ainda pode ser descoberto neste campo.
O número, portanto, é uma grandeza imprevisível, e não é certamente por acaso que o cálculo é justamente o método mais apropriado para tratar do acaso. Embora eu não tenha a pretensão de dizer algo de esclarecedor entre a relação entre dois objetos tão aparentemente incomensuráveis entre si como a sincronicidade e o número, contudo, não posso deixar de acentuar que eles não somente foram sempre relacionados entre si, mas que ambos tem igualmente a numinosidade e o mistério como características comuns.
O número sempre foi usado para caracterizar qualquer objeto numinoso, e todos os números de um ate nove são "sagrados", da mesma forma como 10, 12, 13, 14, 28, 32 e 40 gozam de uma significação especial. A qualidade mais elementar de um objeto é ser uno ou múltiplo. O número nos ajuda, antes e acima de tudo, a por ordem no caos das aparências.
 É o instrumento indicado para criar a ordem ou para apreender uma certa regularidade já presente, mas ainda desconhecida, isto é, um certo ordenamento entre as coisas. É o elemento ordenador mais primitivo do espírito humano, sendo de observar que os números de um a quatro são os de maior frequência e os mais difundidos, pois os esquemas ordenadores primitivos são predominantemente as tríades e as tétradas. A hipótese de que o número tem um fundo arquetípico não parte de mim, mas de certos matemáticos [...]. Por isto não é absolutamente uma conclusão tão ousada definirmos o número como um arquétipo da ordem que se tornou consciente.
 Fato notável é que as imagens psíquicas da totalidade, produzidas espontaneamente pelo inconsciente ou os símbolos do Self (Si-mesmo) expressos em formas mandálica, possuem estrutura matemática. Geralmente trata-se de quaternidades (ou seus múltiplos). Essas estruturas não exprimem somente a ordem, como a criam também. É por isto que elas geralmente aparecem em épocas de desorientação psíquica, para compensar um estado caótico ou para formular experiências numinosas. Mais uma vez devemos acentuar que estas estruturas não são invenções da consciência mas produtos espontâneos do inconsciente, como a experiência já mostrou de modo suficiente. Naturalmente, a consciência pode imitar estes esquemas ordenadores, mas tais imitações não provam que os originais sejam invenções conscientes. Daqui se deduz incontestavelmente que o inconsciente emprega o número como fator ordenador.